quinta-feira, 22 de junho de 2017

A enfermagem num despertar para a psicologia



Em dezembro de 2005, tive o privilégio de me formar em técnico de enfermagem, isto, naquele momento, foi a realização de um sonho para mim. Eu me recordo que aprendi muitas coisas no curso como: aferir os sinais vitais, administrar medicamento por via parenteral, realizar curativos, cuidados com a sonda nasogástrica, dentre outros. Foi uma experiência única em minha vida, aprendi técnicas e métodos eficientes de como cuidar das enfermidades e restabelecer a saúde das pessoas. 

   Após a minha formação, comecei a exercer a profissão de técnico de enfermagem, certo de que estava relativamente pronto para desenvolver e executar todo o meu potencial e aptidão. No entanto, comecei a perceber algumas coisas que na minha própria formação se evidenciavam. Lembro-me que, ainda no estágio, lidava com manifestações internas que me causavam certo desconforto em minha pessoa, como: dúvida quanto utilizar a teoria na “prática real”, o medo de errar, a insegurança, a impotência diante da queixa emocional do paciente, dentre outros. Isto, por sinal, era algo que não estava presente nos manuais.

   É notória a exigência mental sobre o(a) enfermeiro(a) quanto ao seu desenvolvimento profissional, “você precisa ser forte”, “você não pode ter medo”, “você não pode errar”, “Você não pode se deixar abater”. Diante de todas essas “recomendações” eu me perguntava se havia espaço para um “ser humano” executar, de fato, esta função. A princípio eu justificava as minhas inquietações devido a minha “falta de experiência” ou pela minha “juventude”, todavia, ao me deparar no campo com alguns colegas “experientes”, percebi que muitos tinham inquietações parecidas com as minhas. 

   Cabe ressaltar que muitos colegas de profissão, experientes ou não, tinham dificuldade de lidar com a dor, o medo e repúdio do paciente, muitos tinham receio e pavor em falar da morte, outros com tanta “segurança adquirida” em “nunca vou errar” realizavam os procedimentos sem o equipamento de proteção individual adequado, como se estivessem blindados fisicamente e em seus próprios sentimentos. No entanto, eu questionava: a quem recorrer a estas dificuldades? Será que um dia conseguirei expor minhas fraquezas e ser compreendido? 

    Movidos por toda teoria ou pela técnica, ou pelo amor a profissão ou do cuidado com o outro, aí se encontram os técnicos de enfermagem. Assim, fui desenvolvendo meu trabalho como enfermeiro e era muito feliz no que fazia. Estar com o outro realizando os cuidados era algo que me realizava, no entanto, algo ainda me inquietava no meu trabalho, ficava cada vez mais instigado com toda a manifestação de cunho emocional e psíquico que emergia no meu trabalho, seja na relação enfermeiro x paciente, enfermeiro x família, enfermeiro x equipe de saúde, enfermeiro x instituição. 

   Minhas inquietações me mobilizaram de tal forma que me despertaram para realizar o curso de Psicologia. Hoje eu sou Psicólogo e eternamente grato ao que a minha primeira formação, técnico de enfermagem, me proporcionou. Ainda não tenho respostas para todas as minhas indagações e não sei se vou encontrar, porém, descobrir que há um mundo em que eu possa falar, sentir, refletir, lidar e vivenciar essas inquietações, esse lugar a Psicologia conseguiu me proporcionar e este mundo a Psicologia me ensinou a oferecer para qualquer pessoa que esteja disposta a entrar.

Psicólogo: Raphael Miranda Dias.